sexta-feira, 12 de março de 2010

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON

Nota Cineclick
Angélica Bito

No longínquo século 19, o escritor irlandês Oscar Wilde abordou o envelhecimento de forma fantasiosa no romance O Retrato de Dorian Gray, no qual o personagem principal, um homem extremamente vaidoso, enlouquece ao permanecer jovem, enquanto um retrato seu, escondido num armário, envelhece. Tendo como base um conto do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, O Curioso Caso de Benjamin Button também aborda a questão do envelhecimento de uma forma bizarra, numa história fantástica, mas com tons otimistas, diferentemente da história de Wilde.

Benjamin Button (Brad Pitt) nasceu em circunstâncias extraordinárias, como ele mesmo define, no dia em que a Primeira Guerra Mundial terminou, em 11 de novembro de 1918. Enquanto as pessoas comemoravam o fim do conflito nas ruas de Nova Orleans, nos EUA, nascia o protagonista desta fábula, sobrevivente de um parto que acabou levando a vida de sua mãe. Mas ele nasce com uma doença: um bebê velho, à beira da morte, que rejuvenesce na medida em que os anos avançam. Desta forma, ele está fadado ver morrer todos que ele ama, numa trama sempre pontuada por nascimentos e mortes. Abandonado pelo pai, Thomas Button (Jason Flemyng), na porta de um asilo, é acolhido por Queenie (Taraji P. Henson), que, considerando aquele bebê idoso um milagre de Deus, o acolhe como filho.

Acompanhamos a fábula por meio de um diário escrito pelo protagonista, que, no fim de sua vida, foi parar nas mãos de Daisy (Cate Blanchett), o amor de sua vida, que se encontra no leito de morte enquanto o furacão Katrina ameaça destruir Nova Orleans, o que realmente ocorreu em 29 de agosto de 2005. Aliás, depois de Déja Vu (2006), esta foi a segunda produção hollywoodiana a ser rodada na cidade. A cidade já estava prevista como locação para o filme, rodado entre 2007 e 2008, mas os estragos causados pelo desastre natural - que matou cerca de 1.500 pessoas, destruiu mais de 100 mil casas e deixou prejuízos superiores a US$ 80 bilhões - colocaram em risco a realização das filmagens. Sensibilizado pelos efeitos da catástrofe, Pitt viu de perto a calamidade da situação durante as filmagens e, após a conclusão do filme, anunciou o projeto Make It Right, que tem como objetivo a construção de casas ecológicas na região. Em dezembro de 2008, as seis primeiras casas foram entregues à população. As 150 moradias previstas serão construídas acima do nível do solo, para evitar futuras inundações. Enquanto sua filha, Caroline (Julia Ormond), lê o diário, a história de Benjamin desenvolve-se na tela.

Por mais que seja uma fábula fantasiosa, a história de O Curioso Caso de Benjamin Button é capaz de conquistar o espectador por manter-se com o pé na realidade, visto os dois acontecimentos notórios que marcam o início e fim da história, a Primeira Guerra Mundial e o furacão Katrina. Os personagens tornam-se críveis simplesmente por terem testemunhado fatos que realmente aconteceram.

O Curioso Caso de Benjamin Button marca a terceira parceria cinematográfica entre o diretor David Fincher e o ator Brad Pitt, depois de Seven - Os Sete Crimes Capitais (1995) e Clube da Luta (1997). Neste filme, Fincher experimenta uma direção mais clássica ao contar esta bela fábula, que não lança mão da violência estética das duas outras produções protagonizadas por Pitt. Parece que Fincher amadureceu, assim como o ator. Mesmo desenvolvendo um trabalho mais clássico e convencional na direção, Fincher ainda é capaz de compor cenas belíssimas, inesquecíveis, de uma forma especialmente sensível, como se estivesse conduzindo uma verdadeira ode à vida, ao amor, aos relacionamentos e às pessoas que passam por nós. Percebe-se um envolvimento apaixonado de toda a equipe com esta história. Redundante dizer que Pitt, em particular, apresenta-se especialmente inspirado como o protagonista, independente das cinco horas de maquiagem às quais era submetido diariamente para aparentar velho.

O Curioso Caso de Benjamin Button já estréia no começo de 2009 despontando como provavelmente um dos mais belos filmes deste ano.

Em tempo: Pitt envolveu-se tanto com este projeto que levou sua filha Shiloh Jolie-Pitt, recém-nascida na época, aos sets de filmagem, fazendo até uma ponta no longa.

PRÊMIOS
- Vencedor de 3 Oscars - Melhor Maquiagem, Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Visuais

FICHA TÉCNICA
Diretor: David Fincher
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Julia Ormond, Elle Fanning, Elias Koteas, Jason Flemyng, Taraji P. Henson, Josh Stewart
Produção: Ceán Chaffin, Kathleen Kennedy, Frank Marshall
Roteiro: Eric Roth e Robin Swicord, baseado em conto de F. Scott Fitzgerald
Fotografia: Claudio Miranda
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 166 min.
Ano: 2008
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Paramount Pictures
Classificação: 12 anos

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