sábado, 29 de dezembro de 2007

Konstantínos Kaváfis

Konstantínos Kaváfis, no alfabeto grego: Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης, (Alexandria, 29 de abril de 1863 — Alexandria, 29 de abril de 1933) foi um poeta grego. Por vezes, seu nome aparece creditado como Constantine P. Cavafy.
Nascido numa familía grega radicada no Egito e tendo vivido dos sete aos dezenove anos de idade em Liverpool, Kaváfis era um cético e questionava a Cristandade, o patriotismo e a heterossexualidade. Kaváfis era homossexual. A sua relação mais conhecida foi com Alexander Singopoulos. Publicou 154 poemas e cerca de mais uma dúzia permaneceram incompletos ou no esboço.

Até aqui Extraído da Wikipédia.



Uma voz que ainda ressoa
HAMILTON ALVES
Florianópolis

A editora José Olympio lançou há pouco o livro “Poemas”, de Konstantinos Kaváfis, que, durante toda a existência, não conseguiu compor mais que l50 poemas. Desses, a metade aproximadamente vem editada nessa obra. O encarte “Mais”, da Folha de S. Paulo, na abertura do novo século (2000), constituiu uma comissão julgadora para definir quais eram os dez melhores poemas produzidos no século 20. O poema de Kaváfis “À Espera dos Bárbaros” foi muito votado, mas não chegou a integrar os dez ungidos por tal comissão. Esse poema constitui um dos momentos grandiosos de Kaváfis, comparado a outros que, nesse volume ora editado, têm bom conteúdo poético.
Nem sempre o poeta consegue manter (ao menos nessa antologia) o grande nível desse seu poema consagrado, remetendo em alguns deles a figuras históricas do país de seus pais (Grécia), que compõem, em grande parte, a mitologia grega, no que, por isso mesmo, a qualidade perde muito de impacto, isso (para lembrar a observação precisa de Fernando Monteiro, escritor e crítico de arte pernambucano) numa visão ocidental, não se pondo em relevo a origem ou a formação oriental de Kaváfis.
Mas nem por isso se pode deixar de considerá-lo o grande poeta que foi. Nos poemas constantes desse volume (em torno de uns dez aproximadamente) nota-se a beleza de que se revestem, sem considerações de raízes culturais que possam de qualquer modo tê-lo influído. Cito de passagem o poema “Muros”:

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pensar Ergueram a minha volta altos muros de pedra.
E agora aqui estou, em desespero, sem pensar Noutra coisa: o infortúnio a mente depreda.
E eu que tinha tanta coisa para fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.
Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora, Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse”.


Konstantinos nasceu em Alexandria (Egito) em 29 de abril de 1863, sendo seus pais de Constantinopla. A mãe de Kaváfis perdeu uma menina e pretendera outra quando ficou grávida de Konstantinos. Por isso, sempre foi criado como se fora uma menina, usando trajes femininos, deixando-lhe crescer os cabelos em cachos, dados com que se pretende explicar sua homossexualidade.
Com a morte do pai, a família Kaváfis teve que se mudar para a Inglaterra, onde moravam dois filhos do casal. Mas lá não permaneceram muito tempo, regressando ao Egito, onde passaram a adotar outro train de vida, tendo, por isso, Konstantinos que exercer atividades modestas com que garantir a sobrevivência. Desde cedo, revelou vocação à poesia, aproveitando todas as horas disponíveis para compor poemas, mesmo durante o labor burocrático.
Kaváfis se queixava de, muitas vezes, tendo que ganhar a vida em empregos medíocres, sacrificar poemas que lhe surgiam prontos à mente para compô-los em outro momento, quando era tarde demais; tinha-os perdido irremediavelmente, se desfeito como bolhas de sabão.
Perdendo a mãe, à qual era muito ligado, o poeta passou a morar só numa rua de Alexandria, conhecida por ser freqüentada por meretrizes. Morou numa casa de dois pisos, sendo que no debaixo funcionava um rendez-vous.
Kaváfis tinha um procedimento meio comercial em relação à sua arte, alegando que, se os comerciantes anunciavam seu produto à venda, por que não podia fazer o mesmo com seus poemas?
Atingiu grande prestígio como poeta já em seu tempo. Ungaretti o tinha entre os de maior projeção à época, além de Marinetti e E.M. Foster, que lhe devotavam igual admiração.
Em 1924, uma série de artigos escritos por um desafeto colocava a vida escandalosa de Kaváfis no mesmo nível da de Oscar Wilde, que havia sido condenado em seu país por homossexualidade. Mas isso não impediu que o governo grego lhe conferisse a Ordem de Fênix, galardão só obtido por grandes nomes das artes.
No ano de 1932, os médicos constataram-lhe um câncer na garganta. No hospital de Atenas, foi-lhe feita uma traqueotomia, perdendo a voz, só podendo se comunicar por bilhetes. Sem resistir à doença, Kaváfis sucumbiu a ela no exato dia em que completava 70 anos, em 29 de abril de 1933.
Podia mencionar, ainda, como obra-prima, à altura dos grandes poemas consagrados, o poema “Um Velho”, que revela a grande dimensão da poesia de Kaváfis.
A tradução dos poemas traz a assinatura de José Paulo Paes, que era um renomado lingüista, traduzindo o poeta do original grego. Confessa que teve árduo trabalho para expressar sua poesia em nossa língua.
José Paulo Paes faz nesse livro um longo ensaio (cerca de 100 páginas) sobre a obra de Kaváfis, sendo ele um dos mais competentes conhecedores de poesia. O auto-retrato de Konstantinos Kaváfis foi traçado nesse poema (com o título”Fui”):

Não me deixei prender. Libertei-me de todo e fui em busca de volúpias que em parte eram reais, em parte haviam sido forjadas por meu cérebro; fui em busca da noite iluminada.
E bebi então vinhos fortes, como bebem os destemidos no prazer.


Trata-se de uma confissão ou auto-confissão da tendência homossexual do poeta, mas não vale, a meu ver, como indicativo de sua melhor poesia.
Apesar de ser um nome notabilizado como poeta em todo o mundo, era (ou é) ainda muito pouco conhecido no Brasil. Só de pouco tempo para cá, através da publicação dos poucos poemas, que produziu ao longo de sua vida, é que sua audiência tem aumentado consideravelmente.
De rigor, pode-se considerar de alto nível poético uma dezena de poemas desse livro que ora vem de ser lançado. Quanto à crítica, a não ser José Paulo Paes e alguns outros conhecedores do poeta, pouco ou quase nada se escreveu sobre Kaváfis. Daí explicar-se sua pouca (ou nenhuma) notoriedade entre nós, embora haja quem o cultive como sendo uma das maiores expressões da poesia mundial, e, ainda agora, tenha admiradores por toda a parte.
Com respeito ainda à sua homossexualidade (sofrendo tormentos por ceder a tal comportamento - confessado por ele próprio), retratou-a em versos:

A cada pouco jura começar vida nova.
Mas quando a noite vem com seus conselhos, seus compromissos, com suas promessas; mas quando a noite vem com sua força (o corpo quer e pede), ele de novo sai, perdido, atrás da mesma alegria fatal.


HAMILTON ALVES, jornalista e escritor

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